Pois é... Dia do professor... O que eu fiz hoje? Dei aula. Ahã, arigó né? Mas não é dia de reclamar, pelo menos pra mim, é dia de dizer como eu sou apaixonada pelo meu trabalho.
Pra mim, a parte mais importante de ser professor não é ensinar a matéria, mas sim conviver com os alunos. Às vezes, mais importante do que transmitir nossos conhecimentos, é sentar e ouvir o que eles precisam falar. A Simo escreveu no blog dela que professores acumulam dezenas de profissões (psicólogo, nutricionista, etc), mas eu acho que, nos nossos dias, os professores estão acumulando uma profissão muito mais importante: a de pai e mãe.
Meus alunos me procuram pra contar começos e fins de namoro, problemas com pai e mãe, conquistas profissionais, brigas com os amigos, dificuldades no colégio, dificuldades de entender o mundo, dificuldades de entender a si próprio... E eu faço questão. Faço questão de sentar e ouvir, porque, na verdade, a conversa faz bem pra mim. É ótimo saber que sou confiável e que eles lembram de mim quando pensam em alguém confiável pra conversar. É ótimo saber que eles lembram de mim quando querem um ombro pra chorar. É ótimo saber que às vezes só de saber que eu tô ali pra escutar eles já melhoram.
E nessa convivência eu me espanto como nossos adolescentes andam apáticos, desanimados. Uma geração de surdos (por causa do volume enlouquecedor dos fones dos MP3, MP4, MP2057), presos ao seu mundinho musical, sem conversar, analisar ou refletir sobre a realidade que os cercam. Pessoas que ouvem e dizem "não vai mudar mesmo" a cada 5 segundos e já acreditam que isso é uma verdade. Não vejo paixão, não vejo intensidade, não vejo nem os rompantes da adolescência. E essa é a segunda coisa mais importante de ser professor: tentar fazer que essas coisas reapareçam nos olhos deles.
Daí eu não entendo como, no dia dos professores, alguém tem a cara de pau de colocar aquela manchete lá de cima num jornal. Como assim? E as meninas de 12 anos grávidas? E as meninas que são expulsas de casa porque contam que o pai ou o padrasto é cafajeste e a mãe prefere não perder o homem? E os meninos que tem que aturar o preconceito por serem muito gordos, muito magros, muito altos, muito baixos? E aqueles que estão viciados? E aqueles que não tem nenhum tipo de apoio familiar? Não têm ninguém que acredite neles? Acho que essas pesquisas deveriam ser feitas por professores. Nesse mundo globalizado, cheio de tecnologias e gorduras trans, só nós sabemos como está cada vez mais difícil ser adolescente. E nossa impressão é que, infelizmente, só nós estamos preocupados com eles.
Meu alunos! Amo vocês. Obrigada pela parceria incondicional de vocês. E por entenderem minhas loucuras e ainda acha-las divertidas.
Comentários
Devo confessar que não coloquei pai e mãe em meus texto por achar pura pretensão, mas é verdade, muitas vezes fazemso papel de pai e mãe, mas não apenas porque nossos adolescentes são "largados" pelos pais, mas possivelmente pais e mães não estão preparados para tal! Tá, nem sempre me acho preparada ara ser mãe, mas enfim!!!
Sempre de manhã cedo, quando acordo indo pra escola (muitas vezes com uma dificuldades terrível!) me recarrego com a bateria desses jovens malucos que são meus alunos. Espero "envelhecer" bem mais tarde com isso!
Parabéns mais uma vez!
Realmente esquecem o quando ainda é muito difícil ser adolescente e o pior esquecem de que nos precisamos de ajudar compreensão, também.