Calor, maresia e barulho

 


Calor de janeiro. Dias claros de céu azul. A maresia, a umidade, o barulho e o excesso de pessoas me fazem querer correr para casa, para um quarto escuro. Como se não bastassem todos os quatro tipos diferentes de música alta e os gritos das pessoas, meu filho tem um boneco que fala e faz barulho de metralhadora. Eu sei que a dinda ama, mas a dinda poderia ter pensado na mãe e ter dado um brinquedo sem efeitos sonoros. Um presente sem pilhas: prefiram sempre esse. 

Almoço! Essa é a hora que me salva. Vamos para casa almoçar, tirar uma soneca, porque criança pequena precisa de rotina. Vamos! No terceiro segundo de soninho do pequeno, eu pego o boneco, tiro as pilhas e as escondo. "Mãe de merda" já diria o podcast. Não deixo a culpa nem pensar em chegar. Quero e mereço sossego. E vamos combinar, barulho de metralhadora?! Não é auspicioso em ano de eleição.

Meu filho se contentou em ele mesmo fazer os barulhos do boneco. Disse que a areia estragou o boneco e que quando voltarmos para casa a gente arruma. Passei a tarde com ele treinando sons com a boca (lembrei do ator de "Loucademia de polícia"). À noite, com a cabeça no travesseiro e, finalmente, o descanso na alma, comecei a ouvir a metralhadora.

Durante o dia o menino fazia aquelas efeitos, mas e de noite? De onde vinham? Sempre que eu checava, o boneco estava sem pilha, desligado e deitado na cama ao lado do meu filho. Mais nenhuma noite de sossego, mais nenhum momento de cabeça no travesseiro e descanso na alma. Noite e noites caminhando e procurando de onde vinha aquele som.

Mas uma noite parou. Uma noite em que só ouvi duas coisas. "E as minhas pilhas, Sandra?" seguido de barulhos de metralhadora.

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