Calor de janeiro. Dias claros de céu azul. A maresia, a umidade, o barulho e o excesso de pessoas me fazem querer correr para casa, para um quarto escuro. Como se não bastassem todos os quatro tipos diferentes de música alta e os gritos das pessoas, meu filho tem um boneco que fala e faz barulho de metralhadora. Eu sei que a dinda ama, mas a dinda poderia ter pensado na mãe e ter dado um brinquedo sem efeitos sonoros. Um presente sem pilhas: prefiram sempre esse.
Meu filho se contentou em ele mesmo fazer os barulhos do boneco. Disse que a areia estragou o boneco e que quando voltarmos para casa a gente arruma. Passei a tarde com ele treinando sons com a boca (lembrei do ator de "Loucademia de polícia"). À noite, com a cabeça no travesseiro e, finalmente, o descanso na alma, comecei a ouvir a metralhadora.
Durante o dia o menino fazia aquelas efeitos, mas e de noite? De onde vinham? Sempre que eu checava, o boneco estava sem pilha, desligado e deitado na cama ao lado do meu filho. Mais nenhuma noite de sossego, mais nenhum momento de cabeça no travesseiro e descanso na alma. Noite e noites caminhando e procurando de onde vinha aquele som.
Mas uma noite parou. Uma noite em que só ouvi duas coisas. "E as minhas pilhas, Sandra?" seguido de barulhos de metralhadora.
Comentários