Literatura Panfletária

 

Li no Facebook um post de uma pessoa dizendo que não lê nem enaltece as obras que lê em função da cor da pele do escritor. Disse que literatura é e deve continuar sendo arte. Disse que reduzir a literatura a panfletagem é destruir o que Machado de Assis e Lima Barreto nos deixaram.


Por onde começar?


O Romantismo, que talvez tenha sido uma das escolas literárias mais fúteis, tem obras preocupadas com a sua sociedade. Os poetas nacionalistas, de um jeito bem questionável, tentaram construir uma identidade nacional, exaltando o país através de seus poemas. Castro Alves, poeta da 3° Geração Condoreira, percebeu que tinha um arma para lutar contra a escravidão: seus poemas. Em suas palavras, "a praça é do povo" e era em praça pública que ele lia seus poemas a favor da abolição da escravatura.


Provavelmente, esse seja o exemplo mais fácil de se dar. Temos tantas outras pessoas que usaram e usam suas escritas para fortalecer uma luta, expressar seus pontos de vista, defender uma causa. Já tivemos Maria Firmina dos Reis, escritora e educadora negra, que publicou seu romance "Úrsula" em 1859. Já tivemos Machado de Assis PONTO. Já tivemos Carolina Maria de Jesus que apresentou a fome e catadores de lixo para uma sociedade que finge que eles são invisíveis. Temos Aílton Krenak, líder indígena e ambientalista, que tenta abrir nossos olhos para o fim do mundo que nós mesmos construímos. Temos Amara Moira, transexual, escritora e professora, que se expondo, expõe aquelas que são fáceis de marginalizar e exterminar por preconceito e desconhecimento. Temos Dona Conceição Evaristo PONTO.


A "arte pela arte" falhou fortemente no Parnasianismo. Só serviu para reforçar as diferenças sociais e colocar aqueles e aquelas com menos acesso à cultura cada vez mais longe dela. A "arte pela arte" esvaziou-se de conteúdo e sentimentos, alienando e exaltando o não ser.


Sempre que eu puder, vou usar a literatura como uma ponte entre a história do nosso país e a realidade dos meus alunos e alunas. Sempre que eu puder, vou usar a literatura como referência para que qualquer aluno ou aluna tenha em quem se inspirar, em quem reconhecer as conquistas como suas também, alguém com quem eles e elas se identifiquem  e com isso aumentem sua autoestima, em quem mostre que eles e elas também podem chegar lá.


Não podemos desrespeitar a única arma que muitas pessoas tiveram e ainda têm para lutar por aquilo que acreditavam e acreditam: a arte.

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