"Hibisco roxo" - Chimamanda N. Adichie


 Uma casa cheia de luxo, poder, religião, medo, planejamento e violência. Outra casa cheia de amor, bagunça, debate, sincretismo religioso, ancestralidade, livros e necessidades. Entre elas, duas crianças, dois irmãos: Kambili e Jaja.

Entre a casa dos pais e da tia, as duas crianças descobrem não só a realidade social do país, mas também a realidade de sua própria família. Uma realidade lindamente maquiada pela figura grandiosa do pai.

O pai poderoso rejeitava seu próprio pai por ser pagão. Proibia o filho e a filha de conviver com o avô e castigava-os quando escondiam que haviam passado um tempo com ele. A tia rezava o terço todas as noites e participava das cerimônias de seu povo, admirava a sabedoria do pai e fazia questão que os netos e netas aprendessem com o avô.

Não foi só a história dessa família que me fez ficar acordada até às 2h30 da manhã para terminar o livro. Apesar de todo o choque provocado pela violência interna e externa desse núcleo familiar. Apesar de um amor adolescente inusitado. Apesar de papéis femininos tão fortes e significativos. O que me fez ficar acordada até às 2h30 da manhã foram reflexões extra livro.

Como a colonização influenciou, de fato, a religião dos países? Como a colonização criou, de fato, superstições sobre a cultura ancestral de um povo? Como a colonização dividiu, de fato, famílias? Como a colonização destruiu, de fato, a origem e o passados dos povos?

Eu não sei responder de forma "técnica" essas perguntas. Só sinto que foram uns desgraçados. Culturas riquíssimas foram anuladas pelo desrespeito, petulância, arrogância e ignorância. A religião, junto com o poder político, oprimiu grupos imensos de pessoas e, dentre elas, quantos oprimidos viraram opressores como o pai daquelas crianças. Quantas pessoas realizaram os atos mais desumanos em nome de uma religião que nem era sua, de pensamentos hipócritas, de ações em público opostas às privadas.

Não sou especialista em Chimamanda N. Adichie, mas dos livros dela que eu li, esse foi, sem sombra de dúvidas, o melhor. É triste saber que o "cidadão de bem" existiu, ainda existe e sempre existirá em qualquer lugar do mundo. 

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