Rosa saía todo dia da escola e, com sua mochilinha nas costas, fazia sempre o mesmo caminho de volta para casa. Já sabia de cor os defeitinhos da calçada e conhecia o pessoal todo da vizinhança. Era, com certeza, um caminho que a deixava muito segura.
Na casinha de número 365 morava a única pessoa que dava atenção à Rosa. Todos os dias, a senhorinha do 365 esperava Rosa na janela e as duas ficavam conversando por algum tempo. A menina e a senhora não tinham nada em comum, mas eram a única uma da outra.
Não era só a conversa que atraía Rosa. Todo dia, a senhorinha tinha um pedacinho de bolo para dar para a menina. O bolo era abatumado, mas tinha um gostinho bom e dava uma sensação gostosa ganhar aquele carinho. Quando chegava em casa, o bolo abatumado ficava pesando no estômago e ela sempre se prometia não comer mais.
Promessa nunca respeitada, porque ela não resistia o oferecimento do bolinho abatumado. Pensou em mudar o caminho de volta para casa, mas ela lembrava da senhorinha tão atenciosa, o carinho e a conversa e ficava sem forças de dobrar em outra esquina.
Mas um dia o bolo abatumado fez tão mal para Rosa que ela não teve como não tomar uma decisão. No dia seguinte, a menina saiu da escola e pegou um novo caminho. Na janela do sobradinho número 10, uma senhorinha vermelha do calor do sol olhava para a rua com um sorriso muito simpático.
As duas trocaram sorrisos e começaram a conversar uma conversa que parecia guardada a anos. Como se fossem velhas amigas, a senhorinha contou coisas que encheram os olhos e a mente de Rosa. Quando a menina se despediu, a senhorinha do sobrado número 10 ofereceu para ela um pedacinho de bolo. Fofo, crescido e saboroso. Olhando para o bolo, Rosa lembrou da senhora do 365 e ficou com uma pontinha de culpa. Foi então que Rosa percebeu que aquela senhorinha não dava muita importância para ela. Afinal de contas, ninguém oferece bolo abatumado para quem realmente importa.
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BM