Tarde no café


Em algumas tardes eu tenho o raro prazer de ter folga entre uma aula e outra. Geralmente, saio do Yázigi dizendo “Vou lá fingir que eu tenho vida” e vou pro café tomar um suco e comer uma torta.
Na maioria das vezes eu consigo me concentrar bastante e acabo preparando alguma aula, estudando pra faculdade ou lendo o livro da vez. Hoje não consegui fazer isso, porque numa das mesas perto de mim tinha uma mulher, provavelmente da mesma idade que eu, tendo um ataque histérico no celular a plenos pulmões.

O celular dela não parou de tocar nunca e a cada ligação o volume da voz dela ficava cada vez mais alto. No momento que eu desisti de prestar atenção no meu texto da cadeira EAD, ela estava falando com a mãe e dizendo “Vocês nunca acham nada aí. Vai pro inferno. Vou desligar porque fulano tá me ligando”. Ela atendeu a chamada do fulano dizendo “Oi meu anjo, fala meu querido”. Meeel deeeels, será que eu faço isso também? Será que eu fico praguejando contra as pessoas e logo depois sou falsa com outras? E isso aos berros no meio de um café lotado?

Daí fiquei muito tentada a ouvir as outras mesas. Do meu lado duas mulheres conversavam sobre o caso que a amiga da filha de uma delas tinha com uma menina paulistana. O casal tem 17 anos e a paulistana veio sozinha pro sul, se hospedou num hotel e as duas ficaram se encontrando às escondidas da família da gaúcha. Até que um dia, a mãe da gaúcha seguiu ela até o hotel e pegou as duas na cama. Puxa!!!! Que coisa pra se saber no meio da tarde. Essa conversa deveria ser censurada pelo horário.

Um pouco depois chegou um rapaz bem jovem. Tirou o computador da pasta, conectou a internet e o celular tocou. Começou a falar em inglês com alguém e explicou que não estava no escritório porque o carro tava lavando, mas que em duas horas ele voltaria e poderia dar a resposta que pessoa precisava. Depois ele ligou três vezes pra três pessoas diferentes pra descobrir os valores que uma pessoa poderia gastar durante uma viagem de negócios. Putz, gente!! Três pessoas e nenhuma soube responder? Que empresa é essa?!

Eu já ia finalizar esse texto, mas não posso deixar de falar de mim mesma. Ultimamente minha vida parece com aquelas novelas mexicanas cujos títulos começam com “Maria...” Será que alguém, alguma vez já prestou atenção nas minhas conversas aqui no café? Se sim, essa pessoa deve ter quase certeza que eu me chamo Carolina Rafaela e que minha vida é um dramalhão.

Pra que “Avenida Brasil”, gente? As melhores novelas podem estar na mesa ao lado no café. 

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