Carta Aberta para Luciano Huck

Oi, Luciano. Meu nome é Carolina, sou professora do estado do Rio Grande do Sul e não estou escrevendo para pedir a reforma de uma casa nem de um carro. Estou escrevendo para pedir ajuda para realizar um espetáculo de dança.

Danço ballet clássico há 22 anos e nesse ano de 2010 a escola onde faço aulas completa 35 anos de existência. O Ballet Sinos é a escola de dança mais antiga da cidade de São Leopoldo e está entre as cinco mais antigas do estado, mas infelizmente nossa cidade não reconhece o valor dessa arte nem a luta que é conseguir manter uma escola de danças aberta há tanto tempo.

Ballet Sinos é uma escola pequena, da qual fazem parte alunas de 3 a 70 anos. Temos ballet clássico infantil e adulto, jazz infantil, dança de salão e dança para senhoras. Estamos organizando um espetáculo especial para comemorarmos os 35 anos da escola. Nossa mais ilustre aluna, Leslie Heylmann, que começou na escola com 4 anos e hoje dança na Alemanha como primeira solista do Hamburg Ballett, nos dará a honra, juntamente com um colega de companhia, de dançar com todos nós nessa comemoração.

Nossa cidade ficou 10 anos sem um teatro, a partir disso percebe-se a valorização dada à cultura por aqui. Temos muitas dificuldades para conseguir patrocínio e acredito que nossos gastos não sejam astronômicos: passagens para os dois bailarinos, aluguel do teatro, cenário e pequenas despesas com material para divulgação, cartazes e ingressos.

Como uma das alunas mais antigas da escola, tive a ideia de procurar o programa como forma de retribuir tudo o que o Ballet Sinos já me proporcionou. Foi meu primeiro emprego (onde comecei a dar aulas de dança). É minha segunda família, pois construi amizades insubstituíveis nesses 22 anos de escola. Aprendi a ter responsabilidade, disciplina e respeito pelo próximo. E foi onde conheci meus "pais emprestados": tia Elaine e o tio Jorge, donos da escola.

Tia Elaine sempre nos tratou como filhas. Quando a Leslie (aquela bailarina que citei lá no início) foi dançar na Alemanha, ficamos encarregadas de uma tarefa impossível: fazer com que a tia Elaine não sentisse tanto a falta da filha. Ela não é só a diretora da escola, ela é amiga, conselheira e guerreira. Tio Jorge, por muitos anos, foi a ajuda financeira da escola. Além disso, em época de espetáculo, assume os postos de carregador de linóleo, montador e desmontador de cenário, cobrador de ingresso... Depois de um transplante de fígado, do qual toda escola participou através de pensamentos positivos e orações, tio Jorge não conseguiu mais trabalho. Agora a renda deles é apenas a aposentadoria dele e o pequeno lucro da escola.

Não vou conseguir expressar os seres humanos que formam esse casal. Precisaria de milhares de palavras para contar como se dedicam a ajudar os outros (fazem campanhas do agasalho e de alimentos lá no Ballet Sinos). Apesar de precisarem muito da renda que vem da escola, eles apostam nos novos talentos que surgem, dando bolsas de estudo (hoje na escola temos cerca de 5 bolsistas).

Peço que levem em consideração pelo menos a hipótese de vir nos conhecer e entender a paixão que o Ballet Sinos desperta em seus alunos e pais. Aqui dançamos por assim somos mais felizes, porque a dança torna nossas vidas mais prazerosas e completas.

Comentários

Drama queen disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
/hannaluara disse…
Que legal Carol, sua iniciativa. Vc mandou mesmo essa carta ao programa ?
Ela está ótima, com certeza quem lê tem vontade de ajudar. Muita sorte e vibrações positivas pra Ballet
Sinos, que ela possa ser reconhecida pela sua importancia na vida de muitas pessoas:D