Poesia Desdobrável



Pri, Ângela e eu estávamos passando as últimas horas do dia no Pastel. No tempo que ficamos lá jogando conversa fora um mendigo pediu cigarro, um menino ofereceu bala de goma, uma moça ofereceu CD e DVD piratas e um senhor pediu ajuda através de um panfleto pois se dizia surdo-mudo. E quando parecia não existir mais nenhum tipo de pedinte ou de vendedor, apareceu um senhor vendendo poesias.

Eu já o conhecia, já havia comprado uma poesia dele a um tempo atrás. Falei isso pra ele e disse também que o único dinheiro que eu tinha era uma nota de R$2,00 (verdade pura, Ângela que pagou meu lanche). Agradeci e me desculpei e o amigo retribuiu com um sorriso, contando orgulhoso que seu livro está pra ser lançado em breve.

Calmamente, ele atravessou a rua e ofereceu suas poesias para quem estava sentado nas mesas da panqueca. Ninguém comprou. Eu não suportei! Não poderia negar uma poesia e dormir bem de noite. Não devemos virar as costas para a poesia quando ela se oferece pra gente. Peguei meus dois pila, gritei "espera amigooooo!" e atravessei a rua correndo.

Carol - Eu só tenho R$2,00, tu me vende uma por R$2,00? Sou prof de literatura, não posso negar uma poesia.

Poeta - Tu é prof de literatura? Que legal! Hoje fui buscar na gráfica um exemplar do meu livro. Pena que não está comigo pra eu te mostrar. Falo sobre pergaminhos, papiros e mulheres.

Pedi o envelope que tinha uma borboleta com o fundo azul. Ele disse que aquele envelope tinha uma poesia muito triste, que tinha um com o fundo azul com uma poesia melhor pra uma prof de literatura. Como dá pra ver lá em cima, a poesia era um cisne, com uma pena azul impressa nas costas do poema. Na frente, uma janela aberta e o seguinte texto:

"e quando cruzas
as portas de meu dia
fico aflita
quase desfaleço
e como ave retornando ao ninho
me intimido
voo raso
rumo incerto
fecho as portas
te guardo
anoiteço".
Escutem o que eu digo, se a poesia se oferecer pra vocês, não deixem ela passar. Ela nos escolhe.

Comentários

Rafael Cury disse…
Ei, amiga insone. Adorei isso! Beijo.
Simo disse…
Sabe... Um dia parei de sentar no Largo da Ordem pra beber porque não conseguia negar as poesias...

E, na perfeição das alavras dos poetas elas sepre vieram no momento certo.
Priscila disse…
Hic!, foi assim que cheguei em casa. E tua poesia é linda.