Verde quase incolor


Acho que sou verde. Por dentro e por fora sou verde, não se enganem com o branco da minha pele ou com o vermelho do meu rosto, sou verde. Pra muitas, pra todas as coisas me sinto verde. E vocês devem estar pensando: "Tá velha pra isso, minha filha".

Mas sou verde pra vida. Pra escutar, pra falar, pra ler, pra escrever, pra entender. Falo muito, mais do que escuto, prova da minha cor em questão. Sinto falta de pensar, de olhar pra dentro de mim e encontrar todas as outras cores. Verde ingenuidade, elas não estão dentro de mim. Elas estão lá aonde eu tenho medo de ir.

Surpreendentemente me arrisco, tento chegar até, pelo menos, uma delas. Verde medo. Ele me faz perceber que não sei e não estou pronta pra ser pintada de outra cor. Alguém quer tentar me convencer? Verde vulnerabilidade. Às vezes só preciso ouvir um elogio. Que cor isso tem? Verde! Eu deveria me bastar.

No entanto não me basto. Pelo contrário, vou me esvaindo. Pra aonde? Pra onde quiserem, pra onde mandarem. Aí fico incolor como água. Aquela que corre da torneira e escorre infinitamente. Enquanto me desperdiço (?), meu verde desbota e minha camuflagem se rende e, tornando-me incolor, me abro, me exponho, me espalho.

Até o dia em que alguma coisa surgir embaixo dessa torneira e me acolher, me segurar, me conter. De onde vem isso? De mim mesma? Ou só surgirá quando eu perder o medo de ir? Não sei responder, sou muito verde pra saber. E voltamos pro verde início de um verde ciclo de um verde coração que sonha em se tornar um arco-íris.

Comentários

Simo disse…
Sabe, existem milharsde tons de verde :)
Priscila disse…
Fiquei sem fôlego... texto sensacional.
Rafael Cury disse…
Nossa, achei lindo, mesmo. Belíssimo texto. Beijão do colega escriba.