Fome


Já não sinto fome a alguns dias. Pelo menos não nos horários da minha rotina letiva. Agora a minha barriga ronca no fim da tarde e no começo do dia (Que hora o dia começa? Quando o sol nasce ou quando vira a meia noite?). Mesmo passando o dia na frente do computador, da TV ou de um livro, a tentação de beliscar doces ou salgadinhos de isopor não me vence.
Tenho a impressão que a minha fome elevou-se em alguns graus. Tenho fome de ler, de olhar, de cheirar, de gente, de toque, de ouvir, de saber, de compreender, de inventar. Por algum motivo que ainda não entendo, minha fome de falar, até então insaciável, está sumindo. Falo muito, ao vivo ou pelo MSN continuo enchendo de palavras e sons os olhos e ouvidos das pessoas. No entanto, percebi que não falo nada.
Não adiciono, não instigo, não revolto, não inspiro, não faço refletir, não inovo, não desafio. E aí está o meu problema: o desafio. No momento me sinto desafiada em duas coisas, mas não consegui reagir a nenhuma delas. Meu espírito (?) sente uma fome descontrolada, em busca de tudo que realmente importa e que ainda não absorvi. Meu corpo está enfastiado, cansado das mesmas coisas, do mesmo raso.
Sou desafiada e minha mente não elabora nada. Não quero aceitar o fato de que não sou um ser que cria, mas é o que está me parecendo. Tenho a impressão que apenas modifico. Sinto fome de inspiração, de mais desafios e, principalmente, de impulso. Sou uma mola cansada, já não me sinto mais forte o suficiente pra impulsionar grandes saltos (Seriam os meus joelhos o problema?). Talvez tenha chegado num egoísmo tal que preciso de alguém para me empurrar.
Que vergonha!
Não deveria precisar de ninguém, mas não sei se é a hora, o vazio, a sensação de ser burra ou a solidão, mas alguém dentro de mim está muito decepcionado. Pra que servem as coisas que eu sei? Pra me enfastiarem de mesmices, cegando meu apetite para o que realmente importa.

Comentários

Elis Zampieri disse…
Fome de uma voracidade contínua, que nem sempre se sabe de quê...E esse desejo inadiável de que as palavras contem, afinal, de que sentimos fome...

Abraço!
Simo disse…
Rotina, ai dita rotina....

estive pensando nisso hoje de manhã, acho que está na hora de pegar as 5ª séries...

É, renovar é preciso! :)
Priscila disse…
É estranho falar o dia inteiro em silêncio, né!? Ainda não me acostumei com isso. Não acho que tu esteja cegando teu apetite. Tua forma de ver e analisar a vida é que te faz esta Carol que tanto amamos.
Rafael Cury disse…
E não são os escribas seres insaciáveis, Carol? Beijo.
Anônimo disse…
De tudo que tenho lido ultimamente em seu blog sinto, nesse ultimo texto, que a pressão por algo que quer nascer começa a gritar e toda a dor, a dor do nascimento é a mais traumática. Onde uma semente morre, uma árvore nasce. E toda árvore quer crescer, dar flores, frutos e adubar o solo com seu próprio corpo.
Acredite, és uma arvore frondosa. Deixe o Bonsai para quem gosta de sofrer. Tenha calma e contemple sua casca, rachando e caindo enquanto uma nova pele iluminada e revitalizada surge.
E onde antes só havia dor e incerteza, a vida renasce, num ciclo sem fim.
Bruno Martins disse…
Olá.
Eu tb tenho fome disso tudo, mas continuo com um apetite estrondoso por comida. Bolas! Que inveja.

:)

BM