Todos temos prioridades nessa vida. É através delas que conseguimos organizar nossos objetivos e alcançá-los. Às vezes, nossas prioridades podem entrar em conflito com as de outras pessoas, mas acredito que, como tantos outros, são obstáculos que temos que vencer.
Faltando cinco semanas para acabar o ano letivo surgem, repentinamente, novas prioridades para os professores estaduais. Como se não bastassem essas prioridades irem ao sentido contrário das dos alunos e pais, dentro da nossa própria categoria existem desencontros. Mas nossos problemas não são simples problemas de discordâncias entre colegas, nossos problemas são históricos.
O Brasil ficou 308 anos sem a circulação de um jornal, porque Portugal proibiu a impressão de qualquer material de leitura. Leitura, notícias, poesias, romances poriam em risco a dominação portuguesa. O Brasil ficou 308 anos sem UMA escola que fosse, porque para Portugal não era interessante ter uma população letrada em uma colônia tão grande e rica.
Obviamente, as coisas mudaram muito desde que a família real portuguesa mudou-se para cá. Mas, infelizmente, a prioridade de nossas autoridades continua sendo qualquer coisa menos a educação do povo, porque para os governantes não é interessante ter uma população letrada em um país onde a corrupção corre solta.
Primeiro que magistério é uma profissão típica feminina. As mulheres com seu senso maternal cuidavam não só de seus filhos, mas também dos filhos dos outros. Desde o início de nossa carreira, fomos encarados mais como babás do que como educadores. Daí o carinhoso apelido de “tia” que as crianças usavam para chamar as profs. Talvez por causa disso o salário sempre foi mais pra menos do que pra mais: mulheres tem os maridos para sustentar a casa.
Eis que a sociedade evolui, as pessoas evoluem, a educação evolui e o salário continua mais pra menos do que pra mais. Homens e mulheres continuam tentando educar os filhos dos outros. Nos dias de hoje essa função está mais gritante do que nunca. Incontáveis vezes ouvi de pais ou mães “Vocês que dêem um jeito nele, porque eu já desisti!”. Os pais desistem dos filhos, nós não. Nós não desistimos porque somos professores. Optamos em ser professores, apesar de toda a falta de respeito em relação a profissão, porque acreditamos que todos tem potencial para uma vida melhor. Porque acreditamos que só com conhecimento e cultura é que podemos alcançar um futuro digno.
Mas como convencer nossos alunos que a educação é o caminho, quando eles nos olham e perguntam: “Pra que que eu vou estudar? O presidente nunca estudou e é presidente?”. Realmente, eu falo três línguas, sou formada na faculdade e preciso ter cinco empregos para somar R$ 1.000 no fim do mês. Como podemos disputar a atenção dos alunos com a internet, os MP3, os celulares, os jogos de computador se, às vezes, não temos nem mesmo uma máquina de xerox para fazer cópia de um simples texto para leitura? O problema não se resume ao nosso baixo salário. O problema é a total falta de recursos para que nossas aulas se tornem mais atraentes do que a televisão, o computador e o traficante.
Por que o professor não pode ganhar mais? Porque corremos o risco de ficarmos motivados, de querermos nos atualizar em cursos de especializações, porque poderemos comprar livros e abrir nossas mentes e, conseqüentemente, abrir as mentes de nossos alunos.
Enquanto a prioridade do aluno for ir pro colégio só pra fazer amizades, enquanto a prioridade dos pais for mandar os filhos para o colégio para eles não ficarem incomodando em casa, enquanto a prioridade do governo for roubar e não lutar para construir um país desenvolvido, enquanto a prioridade de alguns professores for ir pra praia em janeiro, nossos movimentos nunca farão efeito. Enquanto a população brasileira não admitir a importância da existência de um professor e perceber as dificuldades que ele enfrenta para poder exercer sua profissão, nossos movimentos nunca farão efeito.
Pergunte para um professor quantas vezes ele foi chamado de “bicha”, “mal comida”, “vagabundo” ou “mal-humorada” pelos alunos. Pergunte para um professor quantas brigas ele teve que separar, quantas facas ou revolveres ele recolheu dos alunos, quantos pneus foram furados. Pergunte para um professor quantas vezes ele teve que ouvir uma menina de 14 anos contando que estava grávida e não sabia o que fazer, quantas vezes ele teve que ir ao banheiro e levantar um aluno do meio do vômito porque bebeu escondido na hora do recreio, quantas vezes ele ouviu um aluno falando que os pais o batem ou o violentam sexualmente.
Nunca pagarão um salário que valerá a pena ouvir todas essas histórias sem poder resolvê-las. Só somos professores, porque amamos nossos alunos e, para muitos, somos os únicos que os amam.
Faltando cinco semanas para acabar o ano letivo surgem, repentinamente, novas prioridades para os professores estaduais. Como se não bastassem essas prioridades irem ao sentido contrário das dos alunos e pais, dentro da nossa própria categoria existem desencontros. Mas nossos problemas não são simples problemas de discordâncias entre colegas, nossos problemas são históricos.
O Brasil ficou 308 anos sem a circulação de um jornal, porque Portugal proibiu a impressão de qualquer material de leitura. Leitura, notícias, poesias, romances poriam em risco a dominação portuguesa. O Brasil ficou 308 anos sem UMA escola que fosse, porque para Portugal não era interessante ter uma população letrada em uma colônia tão grande e rica.
Obviamente, as coisas mudaram muito desde que a família real portuguesa mudou-se para cá. Mas, infelizmente, a prioridade de nossas autoridades continua sendo qualquer coisa menos a educação do povo, porque para os governantes não é interessante ter uma população letrada em um país onde a corrupção corre solta.
Primeiro que magistério é uma profissão típica feminina. As mulheres com seu senso maternal cuidavam não só de seus filhos, mas também dos filhos dos outros. Desde o início de nossa carreira, fomos encarados mais como babás do que como educadores. Daí o carinhoso apelido de “tia” que as crianças usavam para chamar as profs. Talvez por causa disso o salário sempre foi mais pra menos do que pra mais: mulheres tem os maridos para sustentar a casa.
Eis que a sociedade evolui, as pessoas evoluem, a educação evolui e o salário continua mais pra menos do que pra mais. Homens e mulheres continuam tentando educar os filhos dos outros. Nos dias de hoje essa função está mais gritante do que nunca. Incontáveis vezes ouvi de pais ou mães “Vocês que dêem um jeito nele, porque eu já desisti!”. Os pais desistem dos filhos, nós não. Nós não desistimos porque somos professores. Optamos em ser professores, apesar de toda a falta de respeito em relação a profissão, porque acreditamos que todos tem potencial para uma vida melhor. Porque acreditamos que só com conhecimento e cultura é que podemos alcançar um futuro digno.
Mas como convencer nossos alunos que a educação é o caminho, quando eles nos olham e perguntam: “Pra que que eu vou estudar? O presidente nunca estudou e é presidente?”. Realmente, eu falo três línguas, sou formada na faculdade e preciso ter cinco empregos para somar R$ 1.000 no fim do mês. Como podemos disputar a atenção dos alunos com a internet, os MP3, os celulares, os jogos de computador se, às vezes, não temos nem mesmo uma máquina de xerox para fazer cópia de um simples texto para leitura? O problema não se resume ao nosso baixo salário. O problema é a total falta de recursos para que nossas aulas se tornem mais atraentes do que a televisão, o computador e o traficante.
Por que o professor não pode ganhar mais? Porque corremos o risco de ficarmos motivados, de querermos nos atualizar em cursos de especializações, porque poderemos comprar livros e abrir nossas mentes e, conseqüentemente, abrir as mentes de nossos alunos.
Enquanto a prioridade do aluno for ir pro colégio só pra fazer amizades, enquanto a prioridade dos pais for mandar os filhos para o colégio para eles não ficarem incomodando em casa, enquanto a prioridade do governo for roubar e não lutar para construir um país desenvolvido, enquanto a prioridade de alguns professores for ir pra praia em janeiro, nossos movimentos nunca farão efeito. Enquanto a população brasileira não admitir a importância da existência de um professor e perceber as dificuldades que ele enfrenta para poder exercer sua profissão, nossos movimentos nunca farão efeito.
Pergunte para um professor quantas vezes ele foi chamado de “bicha”, “mal comida”, “vagabundo” ou “mal-humorada” pelos alunos. Pergunte para um professor quantas brigas ele teve que separar, quantas facas ou revolveres ele recolheu dos alunos, quantos pneus foram furados. Pergunte para um professor quantas vezes ele teve que ouvir uma menina de 14 anos contando que estava grávida e não sabia o que fazer, quantas vezes ele teve que ir ao banheiro e levantar um aluno do meio do vômito porque bebeu escondido na hora do recreio, quantas vezes ele ouviu um aluno falando que os pais o batem ou o violentam sexualmente.
Nunca pagarão um salário que valerá a pena ouvir todas essas histórias sem poder resolvê-las. Só somos professores, porque amamos nossos alunos e, para muitos, somos os únicos que os amam.
Comentários
Ser professor é mais do que enisnar sua matéria.... é ir além!!!
Enquanto a prioridade dos governantes não for a educação, este país continuará sendo a falácia que é.