Uma colega contou que, quando adolescente, era amiga de duas irmãs que tinham uma babá. Aquele tipo de babá que cuida da mãe, dos filhos, dos netos e ficam fazendo parte da família.
Contando pra essa minha colega um pouco de sua vida, a tal babá contou a seguinte história:
"Nós éramos oito. Fomos morrendo, fomos morrendo e agora somos só eu".
Em um primeiro momento, se a gente lê sem prestar atenção, essa frase é só uma união de vários problemas de concordância verbal. Mas é só porque eu disse que foi uma babá que escreveu. Se abaixo dessa frase estivesse entre parênteses o nome de algum autor famoso, daríamos várias interpretações.
Os modernistas (como Mario de Andrade que nos dá o prazer de sua presença ai em cima), estudaram, discutiram, debateram durante anos e anos como fazer poesia contrariando todas as regras e estruturas rígidas de nossa língua. Essa senhora fez isso sem, talvez, nem nunca ter lido algum modernista.
A interpretação que dou é que a poesia vem do coração menos treinado e estudado e do mais cheio de sentimentos. Cada irmão que morreu levou um pouco dela e ela é a soma de um pouquinho de cada irmão.
Talvez não faça sentido eu voltar quase um ano depois e escrever isso, mas é uma frase maravilhosa, não?
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